quarta-feira, 21 de julho de 2010

O cuidado como relação de alteridade

Em tempos de celebração da amizade, lembrei-me de alguém que me foi próximo durante alguns meses. Foi-me próximo, enquanto significação de próximo, no Evangelho, que coincide com a do Filósofo Emmanuel Lévinas. Dois próximos, aquele que é próximo, porque agradável e com o qual se tem vínculos de amor/amizade e o próximo distante, com o qual não se tem vínculos afetivos, mas responsabilidade, pelo outro que me afeta.

Dois rostos! Tanto no sentido bíblico quanto no da ética levinasiana, lançam-me para a alteridade, para a relação com outrem, diferente, mas próximo de mim.

Curioso como a relação de proximidade com alguém pode mudar. As vezes somos obrigados, e nem sempre escolhemos isso, a deixar de ser o próximo amigo/amante para sermos próximos fraternos ou próximos responsáveis.

Quando se é próximo por afinidade, na alegria e no compartilhar da vida, a relação é prazerosa. Tudo que se faz é espontâneo, gratuito, e de fato, não o fazemos esperando méritos. Se o outro está caído, e percebemos em seu olhar o desespero, o grito de pedido de amparo, estremecem nossas entranhas e nos compadecemos. Damos o nosso tempo, o que temos de nós mesmos e até conclamamos outras pessoas para nos ajudar, quando não conseguimos levantar sozinha aquela pessoa. Saber que a pessoa está cuidada, na hospedaria, tratando as feridas... Isso é o bastante! Não tem vaidade nem interesses pessoais, somente a alegria de que o outro fique bem, mude da condição de caído, ferido, à margem da estrada, para a de cuidado e em reabilitação.

Quando se é próximo distante. O que fazemos é por responsabilidade, por sermos afetado pelo Outro, digno de direitos e que se encontra à margem. E aqui possibilita horizontalizar dois conceitos de próximos: o de  quando cuido por amor, sem receber recompensas, e o de cuidado por responsabilidade, simplesmente porque o Outro, o meu próximo necessita de mim. Esse Outro/Próximo é também digno de direitos e qualquer cuidado que lhe dispensar, tanto em Jesus como em Lévinas, não terei feito mais do que minha obrigação.

Eis, portanto, um desafio ético: Cuidar! Independente do Outro/Próximo ser distante ou não.

Na responsabilidade, aprendemos a cuidar do Outro próximo e distante. E quando um alguém que nos foi próximo e se distanciou, por opção, aprende-se a arte do cuidado por responsabilidade. Essa pessoa é digna, se não mais como amiga, agora, como “Outro”, do meu cuidado. E percorro outros caminhos para continuar cuidando.

Na amizade, a reciprocidade nos lança para cuidados, também, próximos e distantes. Há tempos e relações diferentes. Aquelas que se esvaíram e aquelas que nos certificam que estão sempre lá. Amizades eternas!

Por isso, neste 20 de Julho, a você amiga/amigo, que tem sido cuidado em minha vida e de quem cuido ou descuido,  agradeço-lhe por esse amor/amizade, por me amar e me compreender e por ser para mim, bálsamos e hospedarias.

Continuemos insistindo como aprendizes da alteridade. E que Ele o mestre da amizade e do cuidado do Outro nos conduza nos caminhos e descaminhos da vida. Feliz dia da Amizade!









Um comentário:

  1. Ir Santinha,
    Achei lindo seu texto.
    Peço a Jesus que me ensine, a cada dia, a agir com sabedoria ao cuidar do outro/próximo, distante ou perto.
    Continue cuidando das pessoas.
    Cíntia.

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